Hoje ao andar de ônibus presenciei um dos discursos mais
emocionantes que já ouvi em minha vida, confesso que cheguei em casa com os
olhos marejados e louco para divulgar as palavras de um simples motorista de
ônibus. Mas antes de divulgar essas palavras gostaria
que analisassem este artigo da constituição federal:
"Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade."
Um senhor de aproximadamente 80 anos entrava no ônibus e
atravessava a roleta quando o motorista pediu que este sentasse ao primeiro
banco, ao seu lado para que em caso de uma freada brusca poder ajudá-lo
imediatamente, o discurso que se segue não será escrito com perfeita exatidão
pois não me preocupei em anotar e sim em ouvi-lo, uma lição de vida em
pleno ônibus.
"Senhor sente-se aqui pra caso haja uma freada brusca
podermos te ajudar, caso esteja no fundo do ônibus não terei como ajudá-lo. Sei
o que é ser discriminado e não estenderem a mão para nós, sou motorista de
ônibus e sou discriminado diariamente, acham que por vir da favela não é boa
pessoa.
E não é só pela favela não, não respeitam sua classe, sua
cor, sua opção sexual, tudo é motivo para preconceito.
Nem toda pessoa que vem da favela é bandido não. Criticam
muito também a polícia e falam que é uma porcaria, não é assim que funciona, um
ou outro sempre destoa mas não podemos generalizar, isso é um grande problema
cultural no Brasil e acho que não vão solucionar nunca.
O povo primeiro julga, para depois ver a realidade, quem me
vê sentado aqui acha que não tenho formação alguma. Julga que sou só um
motorista, eu tenho sim, sou formado em administração, também fiz um curso de
*não ouvi qual era* , só abandonei meu emprego de administrador pois não
suportava mais sentar diariamente em frente a um computador, ficar preso, só
fazendo cálculos e relatórios.
Deveriam aprender que todos tem seu valor, e que ninguém
merece ser maltratado, acham que não temos valor algum."
-
Alexandre Silva da Costa
Veja bem leitor , gostaria de propor que reflita sobre o
artigo , que reflita sobre o fato de todos serem iguais, todos possuírem a
liberdade e igualdade prometidas em nossa constituição.
Nesse post não exibirei minha opinião sobre o fato
diretamente, apenas achei válido expor as palavras de um cidadão sobre o
momento em que vive, sobre como está a situação de nosso país.
O Direito é um instrumento de poder, sem dúvidas. Mas acima de tudo - correndo o risco de ser poético, ingênuo ou até pretensioso demais - creio que o Direito é um instrumento de transformação social. Aquele homem que estava a frente daquele ônibus possui uma história de vida, possui defeitos, qualidades, família, ele veio de algum lugar e vai para outro lugar. Ele possui anseios, desejos e coragens. Mas ainda sim há quem entre naquele ônibus e não respeite como pessoa, como igual. É o mesmo preceito para com o homoafetivo, o negro, o pardo, o branco, às mulheres, somos tão iguais que é medonho ler, ver ou ouvir alguém ignorar nossas semelhanças, ignorar um senso de empatia, compaixão e solidariedade. Dói ver pessoas apoiando supremacia de raças, apoiando torturadores, apoiando políticas de segregação social. O Direito sem dúvida é uma arma de poder ostensivo enorme, e que viabiliza todas essas desigualdades e pode até proteger esses preconceituosos e desumanos, mas também é o Direito que pode denunciar, coagir e educar para que as coisas mudem para melhor.
ResponderExcluir